terça-feira, 5 de abril de 2011

NO BRASIL, QUEREM FAZER INCLUSÃO SOCIAL NA MARRA

Vírus da intolerância ameaça IBC e Ines

Editorial do jornal O Globo em 5/4/2011

Semana passada, a comunidade de deficientes auditivos e visuais atendidos pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) e pelo Instituto Benjamin Constant (IBC) foi surpreendida pelo anúncio, emitido de Brasília, de que, até o fim do ano, seriam fechadas as escolas de ensino básico para crianças e jovens, que funcionam nas duas instituições. O MEC parte do princípio de que alunos com necessidades especiais devem ser matriculados na rede convencional como forma de "inclusão social".

Para o MEC, manter tais escolas seria segregacionismo. Como é hábito em episódios como este, em que a uma decisão emanada da cúpula do poder no Planalto seguem-se reações da sociedade, o Ministério da Educação apressou-se a afirmar que não há qualquer ação prevista para as duas instituições. Pode ser. Mas o extenso histórico de medidas com o viés do politicamente correto, em obediência à linha ideológica de áreas do PT e adotadas desde o primeiro governo Lula, recomenda prudência e boa dose de ceticismo em relação ao desmentido.

Afinal, não é a primeira vez que o governo federal tenta empurrar goela abaixo da sociedade uma pílula supostamente progressista, que, na realidade, é um composto no qual mal se disfarça o DNA do autoritarismo e da intolerância. Trata-se da mesma matriz que moldou, por exemplo, a política de cotas raciais nas universidades - um arrazoado que, em nome do combate ao racismo e da "defesa de minorias", contrabandeia para a legislação do país uma experiência que, à parte o fato de ter sido inspirada em contexto cultural distinto da realidade brasileira, tem sido contestada, inclusive pela via judicial, em seu próprio país de origem, os Estados Unidos. Não é outra também a origem dos movimentos - que ganharam força ainda no primeiro governo Lula - cujo receituário para o tratamento de pacientes com doenças mentais prescrevia o fechamento de manicômios. Tendo por princípio o ideário da "inclusão", essas ações levaram à redução dos leitos psiquiátricos em todo o país, algo em torno de 80% entre 1989 e 2007, sem que o tratamento ambulatorial desse conta da demanda. Uma pesquisa de 2008 mostrava que em 146 municípios 30% dos doentes não haviam conseguido atendimento. Junte-se a isso um agravante: somente quem tem um parente com distúrbios cujo acompanhamento exige internação sabe o que significa manter em casa um doente nessas condições. O vírus da intolerância teve também seu lado risível no carnaval deste ano no Rio, com militantes defendendo a censura a um bloco que ousara citar em seu enredo Monteiro Lobato, por sinal outra vítima da sanha persecutória das baterias politicamente corretas. No recente caso do IBC e do Ines, embora seja louvável buscar a inclusão de alunos com necessidades especiais, o MEC ameaça cassar às famílias o direito de escolher qual o tipo de educação a ser dada aos filhos. E, não menos importante, não leva em consideração um dado inescapável: como acreditar que a rede convencional de ensino está capacitada a atender tais estudantes, se a crônica da Educação no país está recheada de exemplos dos quais salta a evidência de que a quase totalidade das escolas está despreparada até mesmo para os desafios do ensino convencional?

O politicamente correto se expressa na falácia da inclusão social