Tempos atrás, publiquei aqui um post sobre o cantor Toni Garrido. Ele havia comparecido a um desfile de uma grife e não ficou satisfeito: não havia modelos negros na passarela. Pensei: "Mas havia modelos brasileiros."
"Não me senti representado", ele afirmou. Não sei se Garrido, nos shows caros que ele faz no Canecão, olha para a platéia (ainda tem acento?) da casa de espetáculos para saber se há negros cantando suas músicas. Ele quer é público. Nenhum de seus fãs se importava com o fato de ser branco, em se sentir "racialmente" representado ao aplaudir sua ex-banda, Cidade Negra.
O exemplo de Toni Garrido é apenas um sintoma. E sabemos que esta história pode não acabar bem.
Digo isso para poder falar de um livro que vai mais fundo nestas questões: "Divisões perigosas", que trata exatamente de onde essa política de radicalização racial pode nos levar.
Já temos no Brasil tribunais raciais instalados em universidades. São eles que decidem quem é negro ou não. Hitler não faria melhor. Já temos doenças "exclusivas" de negros. Ja somos quase obrigados pelo Ministério da Educação a dizer nossa cor de pele. E a cada dia que passa as opções são menores: antes, eu podia dizer que era pardo (nunca me preocupei com isso), mas em breve terei que optar - ou preto ou branco.
E tudo isso em nome de uma política de reparação que não leva em conta que nem todos os negros foram os escravos: a história mostra que muitos eram senhores de escravos e enriqueceram enormemente com o seu tráfico. Muitos negros, assim que conseguiam a alforria, tratavam logo de comprar o seu escravo. E eis que uma pergunta surge: e o pobre branco?
Que não se diga que o livro é obra de direitistas brancos. Nada disso. Você encontra em suas páginas textos que parecem ter saído de sindicatos, de reuniões do PT ou de discursos inflamados do MST. Em um deles, ficamos sabendo que essa divisão da sociedade entre negros e brancos é obra da "burguesia", do "capital" e de outras coisas. Claro que não acredito nisso. Mas o livro mostra uma diversidade de opiniões que incluem representantes do Movimento Negro Socialista.
Estamos involuindo. No momento em que o mundo científico põe por terra todos os conceitos de raça, resolvemos ressuscitar este fantasma. Estamos também importando um problema que não é nosso: o da segregação racial que nunca houve neste país. Aliás, este é um ponto importante: a conversa de que no Brasil temos um racismo velado, hipócrita, um racismo de cochichos, envergonhado. Nos Estados Unidos é que deve ser bom: um preconceito aberto. Eu, por mim, concordo com professor Francisco Martinho: "prefiro o racismo acanhado, cada vez mais acanhado."