quinta-feira, 23 de julho de 2009

MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, de Karl Marx e Friedrich Engels

image Lendo alguns trechos do “Manifesto” não dá pra entender por que Marx e Engels o escreveram. Afinal de contas, em determinadas passagens, o texto traz um elogio tão vigoroso da burguesia que dá a impressão de que eles vão mandar essa porra de comunismo pro caralho. Dá vontade de perguntar: “Por que destruir uma classe que tem a capacidade tão grande de se reinventar e que acabou com o feudalismo?”:

“A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção; portanto, as relações de produção; e, assim, o conjunto das relações sociais.”

Até onde consigo ver, não vejo nada de mal nisso aos olhos de hoje. É claro que as transformações desse nível no século XIX provocaram mais impactos, tanto para o bem quanto para o mal. Mais para o bem, já que Hayek, com dados mais confiáveis, afirma que a situação do operariado melhorou sabidamente sob a batuta do capitalismo enquanto Marx usava estatísticas velhas para que suas ideias coubessem na sua teoria.

Então puxamos estas linhas do “Manifesto”:

“Essa organização dos proletários em classe e, assim, em partido político, é rompida a cada instante pela concorrência entre os próprios operários. Mas renasce sempre mais forte, sempre mais sólida, sempre mais poderosa. Aproveita-se das divisões internas da burguesia para forçá-la a reconhecer, sob forma de leis, certos interesses particulares dos operários.”

A vontade de Marx de que a sua revolução eclodisse logo (sempre acreditava que ia ser na semana seguinte) o impediu de ver essa contradição: por que os operários ficam mais fortes quando se dividem e a burguesia se enfraquece se ela, afinal de contas, detem o poder?

Marx e Engels acreditavam que a classe média era reacionária, conservadora. Esse preconceito perdura até hoje. O que acontece – e parece sempre ter acontecido – é que a classe média, na realidade, sempre lutou para sobreviver e nunca pensou na extinção da propriedade privada.

A violência para tomar o poder é vista com naturalidade: “a derrubada violenta da burguesia” foi o que de fato ocorreu quando os comunistas o tomaram. Além, é claro, a “supressão do indivíduo”. Entre aspas a expressão posto que retirada do “Manifesto”. Assustador, mas parece ter passado batido na ocasião.

Não deixam de ser cômicas algumas passagens do livro:

“O comunismo não retira de ninguém o poder de assenhorear-se dos produtos sociais; apenas retira o poder de subjugar, por tal apropriação, o trabalho alheio.”

Marx morreu sem ver os gulags, os campos de trabalhos forçados, com o qual o Estado se apropriou de uma força de trabalho escrava. Não que fosse se escandalizar com isso, já que defendia o extermínio de povos inteiros. Mas o trecho supracitado foi uma bola fora, utópica, ingênua (vá lá) do barbudo alemão.

Ou que tal essa:

“No que repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no lucro privado. A família, em sua plenitude, existe apenas para a burguesia; mas encontra seu complemento na ausência forçada de família , imposta aos proletários, e na prostituição pública.”

Bom, se o problema era a prostituição, em Cuba ela ainda existe sob o regime idealizado por Marx, sobretudo para turistas, hã, burgueses. A ausência forçada de famílias aconteceu na URSS marxista-leninista com deportações, assassinatos em massa e coisas afins.

Marx sonhava com a subtração da influência da “classe dominante” sobre educação e podemos dizer aqui que, vivo fosse, ficaria orgulhoso. No Brasil ele logrou sucesso com professores e livros didáticos que inoculam na cabeça de crianças desavisadas e despreparadas suas “maravilhosas” teorias de maneira simplista mostrando como o capitalismo é demoníaco e como uma sociedade sem classes é bacana e paradisíaca.

O famoso decálogo do “Manifesto” apresenta este terceiro ponto:

“Supressão do direito de herança”.

Aqui, vemos toda a demagogia, toda a hipocrisia de Marx. Falarei disso novamente ao tratar do livro “Jenny Marx”, de Fraçoise Giraud: quando morre a companheira de Engels, Marx lhe escreve uma carta dizendo algo como: “Bem que poderia ter sido a minha mãe.” Está claro aqui que o furunculoso odiava a mãe e mais: tinha dela uma herança a receber. Ou seja, a supressão do direito de herança só servia para os outros. Ele queria meter a mão na grana da mamãezinha assim que a velha esticasse as canelas.

Marx queria porque queria que sua revolução se consumasse logo e isso o mortificava. Daí o seu apelo à violência e sua crítica ao socialismo classificado por ele mesmo de utópico:

“Eis por que rejeitam toda ação política, principalmente toda ação revolucionária. Querem atingir seu objetivo mediante vias pacíficas e tentam, pela força do exemplo, desbravar caminho para um novo evangelho social mediante experiências em pequena escala, evidentemente fadadas ao fracasso.”

Não é à toa que até hoje a esquerda relativiza os atos violentos de movimentos revolucionários ou de “resistência”, termo que me cheira a puro eufemismo. Hamas, Hezbollah, Farc, Sendero Luminoso, tudo isso pode ser justificado, assim como os seus atos pela não-adoção de vias pacíficas, que foram as que acabaram prevalecendo ao longo da História.